terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Priscila, inteligência e sensibilidade a serviço da vitalidade do Evangelho


Quem é Priscila? A mulher de Áquila, é claro! No tempo de Jesus, as mulheres muitas vezes se faziam conhecer por seu pai ou por seu marido. Era a Priscila do Áquila. Priscila que muda e inverte a ordem das coisas, de um temperamento forte, com certeza. Se não for assim, como explicar que falemos, quase sempre, colocando o nome dela à frente do nome do marido, num tempo em que esta não era a ordem natural das coisas?
Priscila, também chama de Prisca (2Tm 4.19), era uma mulher com um chamado. Junto com seu esposo, havia experimentado a tristeza de ser expulsa pela perseguição imposta pelos romanos ao povo judeu, expulsando-o de Roma (At 18.2). Trabalhava num ofício pesado, fabricando tendas, e abriu sua casa para hospedar um recém-conhecido, que tinha idéias religiosas diferenciadas; pois Áquila era judeu e Paulo, cristão (v.2-3).
Logo Priscila se revela uma mestra cristã. Ao conhecer o novo pregador Apolo, ela percebe seu potencial e decide “lapidar o diamante bruto”. Junto com seu esposo, Priscila instrui Apolo mais apropriadamente e faz desabrochar com total capacidade o talento do aluno (At 18.24-28). Seu talento é como o das mulheres que, desde a classe de Escola Dominical até o ministério pastoral, se esforçam na ânsia de fazer discípulos que mais fielmente transmitam as palavras do Cristo.
Priscila me faz pensar na parceria e no despojamento. Fora de sua casa, ela acolhe o peregrino Paulo. Está lado a lado com o marido na luta pelo pão de cada dia, além de estar disposta a acompanhar Paulo na viagem a Éfeso. O texto bíblico dá a entender que ali se fixaram; talvez para contribuir com a Igreja nascente (At 18.18-19). Aqui aparece o caráter missionário de Priscila, sua força e potencial de liderança.
Mas esta mulher também me fala sobre o equilíbrio familiar tão bom que coloca o relacionamento acima de questões menores, como a tão propalada submissão em nossos dias. Acho esse conceito extremamente complicado, pois, na maior parte das vezes, tem limitado os dons das mulheres e a capacidade receptiva dos homens. Quem ama de verdade não tem tempo para pensar em quem tem autoridade, quem manda, quem obedece. Quem ama quer estar ao lado, trabalhar junto.
Porque ama, mesmo num tempo tão distante, Áquila não se ressente da presença forte de sua esposa. Tanto que não lhe parece fazer qualquer agravo ter o nome dela antes do seu nos registros bíblicos. Tanto que está ao lado dela na iniciativa de discipular Apolo. Tanto que ambos abrigam uma igreja em sua própria casa (1Co 16.19). Estão unidos num ministério comum e numa vida conjugal que, por força do testemunho de sua fé nos breves relatos bíblicos, nos apresenta uma vitalidade inconfundível e nos desperta a sensação de parceria, engajamento, unidade, equilíbrio.
Priscila fala às mulheres de hoje que não existe incompatibilidade entre o amor e o trabalho; entre o afeto e a vocação. Por conta de nossas carreiras profissionais, muitas de nós abrimos mão da afetividade familiar e até mesmo conjugal. As pesquisas populacionais demonstram que muitas mulheres estão abrindo mão de constituir uma família por causa de sua profissão. Priscila nos mostra que é possível exercitar o afeto e a inteligência; que é preciso despertar em si mesma e no outro a capacidade para o companheirismo, para a entrega. Ela nos mostra que é possível superar muitas barreiras, entre elas, a do preconceito, para colocar a serviço do Reino de Deus e do próximo os talentos que recebemos. Ao lado de seu marido, ela dirigiu uma comunidade em sua casa, equipou líderes, deu apoio missionário a Paulo e a alguns dos quais jamais saberemos os nomes, pois Paulo fala dos bispos e líderes da cidade de Éfeso em suas cartas e no livro de Atos.
Priscila nos ensina um jeito muito atual de testemunhar a vitalidade do Evangelho. A liderança com firmeza e brandura; a determinação e o enfrentamento das situações mais difíceis, como o êxodo de Roma e a vida numa nova cidade. Ela enfrentou os desafios com audácia e fé. Podemos inferir tudo isso da leitura bíblica atenta no livro de Atos. Se errarmos em algumas dessas suposições, com certeza acertaremos sempre ao afirmar que as mulheres do Novo Testamento jamais perderam a oportunidade de fazer sua parte no Reino de Deus. E nós, hoje? Como testemunhamos a vitalidade do Evangelho?

Um comentário:

  1. Entrei no seu blog direcionado pelo google pensando que era do bispo Nelson Luiz Leite... Meu nome é Luiz Leite e mantenho o Blog Um Dedo de Prosa (www.luizvcc.wordpress.com)que certamente te agradará... depois entro com tempo pra ler mais por aqui. Paz

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