sexta-feira, 15 de abril de 2011

Eu creio, apesar das dúvidas. E pergunto, por causa da fé.

Não gosto de ouvir as pessoas me dizerem que não se pode questionar Deus sobre as coisas ruins que acontecem. Questionar é parte do ato de aprender, e na Palavra está incluído o ponto de interrogação. Foi a partir de uma pergunta que Jesus deu uma das mais belas lições de vida e adoração, para a mulher samaritana, no Evangelho de João. Creio - embora pareça paradoxal - que minhas dúvidas é que sustentam minha fé. Minhas perguntas me permitem aprender o novo sobre Deus, de modo a não me deixar enjaular pela institucionalidade da religião e depois tombar, resignada e no sentimento da falsa liberdade, para abrir mão de Deus, como muitos fazem. Não deixam a fé, como querem transparecer, mas se cansam. E se cansam exatamente porque sua razão se obscurece quando chega a um beco sem saída. Pode ser que a fé seja uma válvula de escape para muitos frente às contradições da vida. Para mim, muitas vezes foi. Quando a situação estava tão aterradora que, de fato, não havia saída, se eu abrisse mão da minha fé eu teria aberto mão da vida. Pois ouço muitos que dizem que a fé não tem sentido e por isso se tornaram ateus. E quando a vida perde o sentido? Simplesmente tiramos nossa existência da perspectiva?
Eu pergunto, meu Deus, como pode acontecer uma tragédia como esta, em que as pequenas vidas são tiradas por um doido? Mas também pergunto: como pode acontecer uma tragédia dessas, que transforma alguém que já foi uma criança como aquela num doido desses? Algo muito errado aconteceu e foi há muito tempo atrás.
Eu me sinto incomodada quando vejo, por exemplo, comunidades surgindo no orkut, com crianças e adolescentes, com mães e pais aderindo a elas. Comunidades chamadas: "Que ele arda no inferno" e similares... porque, se não percebem, estão agindo exatamente como ele agiu, reproduzindo e motivando o ódio. Por mais que todos achem que ele deva ser condenado, a mim me parece que ele já tinha sido há muito tempo atrás. E é isso que devemos evitar: que nossos jovens sejam condenados de tal modo que cometam atrocidades como estas...
Choram as mães daquelas crianças, como Raquel chorou por seus filhos, inconsoláveis, porque eles não mais existem. Choro com elas, olhando minhas filhas e pensando em que tipo de mundo eu as introduzi. Os herodes persistem, assassinando nossos pequeninos, inclusive o perpetrador deste hodiondo crime, que um dia também foi assassinado em suas esperanças, em seu motivo para sorrir e viver.
A vida dele perdeu o sentido. E quando a nossa vida perde o sentido, animais que somos, a vida do outro perde também. Este é o perigo a ser evitado. Esta é a pergunta que deve ser feita. Esta é a razão que deve ser pensada. A fé que deve ser mantida... Acima de religiões, instituições ou igrejas, embora eu siga crendo na importância delas para nós, não para Deus, eu creio no Deus da vida. Eu creio que Ele não tem prazer na morte de ninguém. Eu creio que Ele chora esta tragédia. Eu creio que Ele vê a corrupção e o mal que nos rodeiam todos os dias. Eu creio, apesar de minhas dúvidas, que é possível um mundo melhor. Eu creio, e me esforço. E pergunto. Porque quando achar que tenho todas as respostas, tenho receio de ter chegado ao final da linha. Sem nada mais a ler ou a escrever. Terei perdido a esperança.

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